2011-09-23

O Comboio do Progresso

Baseado na notícia aqui

Eram dois irmãos,
Unidos na mesma dor.
Deram as mãos,
Numa desesperança sem cor.
O comboio os levou,
Arrependido de não ter parado...

Que dirá o padre no funeral?
A mesma lengalenga padronizada
O sacro-santo ritual,
Que já não significa nada?

E os comentaristas televisionados?
Falarão das forças do mercado?
Ficarão abismados e chocados,
Com o rumo do mundo,
Agora imundo e emporcalhado?

Depois disso o que dirão?
Louvarão o mercado desregulado,
A sua invisível mão?
Dessa mesma, agora manchada;
Donde escorre o líquido escarlate...
Não haverá quem a mate?

Mão gorda e mentirosa,
Que conduz a locomotiva,
Deste comboio que nos tira a vida.
Acreditamos na sua visão maravilhosa,
Truque mágico que nos ilude e engana!
Acreditamos no valor do dinheiro,
E na sua falta, o aperto que nos esgana!
E depois de partido o mealheiro,
Não resta nada, senão a rua e o frio...
A espera paciente na estação,
Aguardando o fim de todas as coisas sem nexo,
Ser levado na frente do comboio do progresso!

2011-07-09

Terrorista!




Sei de alguns povos amordaçados,
Na fome, na raiva e na morte.
Povos pequenos e sem sorte,
Vítimas do desejo de futuro,
Que ousaram desejar a liberdade!
Há povos cercados por um muro.
Há notícias que são mera propaganda,
Nenhum resquício de verdade!

Povos, são apenas números perdidos,
Não importam muito mais...
Se morrem ou apenas ficam feridos,
São meros danos colaterais!
Quem dá voz ao povo que emudece?
Quem ousa gritar a sua raiva,
Na justiça que fenece?

Já não sei se vale a pena a esperança,
De um mundo mais fraterno, mais justo!
Esta macabra geopolítica dança,
Em que alguns ganham sempre,
E o resto fica sem tusto!

Há uma raiva que me seca a garganta.
Uma frustração que diz: - Nada adianta!
Mas as minhas mãos ganham garras,
A minha boca presas afiadas.
E se pensam que ficarei domesticado e manso,
Que tudo suportarei com ares de tanso,
Desenganem-se! Saiam-me da vista!
E não me importa nada, se me chamam terrorista!