Eram dois irmãos,
Unidos na mesma dor.
Deram as mãos,
Numa desesperança sem cor.
O comboio os levou,
Arrependido de não ter parado...
Que dirá o padre no funeral?
A mesma lengalenga padronizada
O sacro-santo ritual,
Que já não significa nada?
E os comentaristas televisionados?
Falarão das forças do mercado?
Ficarão abismados e chocados,
Com o rumo do mundo,
Agora imundo e emporcalhado?
Depois disso o que dirão?
Louvarão o mercado desregulado,
A sua invisível mão?
Dessa mesma, agora manchada;
Donde escorre o líquido escarlate...
Não haverá quem a mate?
Mão gorda e mentirosa,
Que conduz a locomotiva,
Deste comboio que nos tira a vida.
Acreditamos na sua visão maravilhosa,
Truque mágico que nos ilude e engana!
Acreditamos no valor do dinheiro,
E na sua falta, o aperto que nos esgana!
E depois de partido o mealheiro,
Não resta nada, senão a rua e o frio...
A espera paciente na estação,
Aguardando o fim de todas as coisas sem nexo,
Ser levado na frente do comboio do progresso!