Não me suportam da minha pequenez.
São tão míopes que a chamam de altivez!
Acham-me tanso quando sou cortês.
Chamaram-me de tudo!
Mandaram-me ver Braga por um canudo.
Chamaram-me de tolo;
Que o meu vestir é de parolo,
Que careço de verniz,
Que pingo do nariz,
Que sou sem berço,
Se não tenho, não mereço!
Quem não tem não herda;
Mandaram-me à merda!
Comer palha!
Que não há quem me valha!
Mas a cada insulto,
A cada pedra lançada,
Escrevi o meu indulto,
E devolvi a pedrada!
Do alto da minha força,
Que permaneço de pé,
Apesar de tanto pontapé!
Se bem que se torça,
O meu rosto permanece afiado.
Mesmo sendo rejeitado,
Éis que permaneço,
Sólido rochedo!
Não estremeço!
Dos hipócritas dizem que sou pai,
Mas o rosto não me cai.
Inventai mais qualquer coisa,
Para escreverdes nessa loisa,
Onde sou alvo fixo.
Verborreia que debitais,
Imenso lixo,
Que tendes demais!
Aproveitai comigo,
Para limpar o intestino,
Que sou vosso amigo!
Ganhai leveza,
Livrai-vos dessa flatulência,
Que vos bate na fraqueza,
E vos afecta a inteligência!
Os especialistas do social,
A tentarem fazer-me mal.
Os especialistas do "torcicolismo",
Do salto à retaguarda em mortal.
Os especialistas no diletantismo,
As enguias profissionais,
As trepadoras de escalas sociais!
Os pelintras com toques de abastança!
Os ilustres, que de grandeza,
apenas tem a pança!
As sumidades de parcas vistas,
que se somem na estreiteza.
Os que além do papa, são mais papistas!
Os que andam por lá, que a sorte bafeja,
Que Deus, até aos ateus, a todos proteja!
Olhai-me anjo caído e amaldiçoado:
Pela Esfinge quase empedrado,
No peito e no punho cicatrizes,
De batalhas em horas menos felizes.
É comigo que vos quereis confrontar?
É em mim que quereis cuspir?
Achai-vos capazes de a minha paz dilacerar?
Ou esperais que desate a fugir,
Por não vos querer enfrentar?
Oh pequeninos com dentes de piranhas,
Cheios de artes tamanhas!
Acaso a vossa agitação,
Será capaz de perturbar,
A minha serenidade?
Quem te afoita subserviente cão?
Porque vens até aqui para rosnar?
Gesto de suprema inutilidade.
A minha figura oh pequeninos,
À minha beira sóis meninos,
Birrentos, mimados;
Chamais-me de tudo, seus malcriados!
Dizem que sou pragana, breve poalha,
Bandido salafrário,
Anarquista libertário,
Reles "esquerdalha"!
Vá chamem-me de tudo até à exaustão!
Não escarvem mais o chão,
É escusado!
Ficareis conservadores convictos,
Enterrados no passado.
Nem uma luzinha, ou nobre pensamento,
Que tendes as ideias presas com cimento.
Chamaram-me de tudo, nada mais resta,
Sou campeão do que não presta!
Escapa-lhes a força do meu amor,
A minha figura de Adamastor!
Que para eles apenas se agiganta,
Os confunde e ataranta!
E respiro e estou à tona,
E pequeno como uma azeitona,
Os sufoco, entalo-os na garganta!
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