2003-12-31

Saboreando o calor!

Saboreando o calor!


Canto num sereno sobressalto,
A musa antiga das coisas simples.
No lugar onde devia estar já não falto,
E apenas digo verdades.
Já não invento coisa nenhuma.
Sou como um chouriço que defuma,
E se me correm as lágrimas na face,
É do fumo, e não de nenhuma dor!
Estou aqui esperando quem me abrace,
Saboreando este calor...

2003-12-26

Nada mais que felicidade

Nada mais que felicidade


Podia amar com um terremoto demolidor
Podia ser sombra, luz e cor
Podia ser de toda a sorte,
Ser fraco e fazer de forte!
Estar contigo e ser, apenas ser!
Porque me deslumbro, arrebato?
Porque sonho, e ando ao relento?
Por ti vivo e me mato,
Neste esforço de te ter!
Por ti sou ar e vento!
Tempestade!
E quem sabe?
Talvez nada mais que felicidade!

O céu azul

O céu azul


O céu é cinza chumbo e sabe mal,
Como quando se lambe ferrugem.
É como quase tudo afinal,
Um clamor de terrugem!

A vida é plena de futilidade.
É sem sentido, sem filosofia.
É uma procura da felicidade,
Onde nunca se encontra alegria!

Sim, eu sei também do céu azul...
A vida não passa de chapinhar
Somos como patos num paul,
Á espera do caçador nos apanhar!

2003-12-21

O Avarento

O Avarento


Tem as mãos fechadas e olha de lado,
Não sabe que é doente e é marado.
Procura tudo o que não tem, nem pode ter!
É um morto vivo, que julga que assim é viver.

Lamento a convicção com que se apodera.
É um cacto, ou menos que isso!
É o que persegue o lado negro da quimera,
E nisso tem o pensamento fixo!

É um doente mental que quer,
O meu mundo e o teu!
Pensa que no juntar e ter,
Ganha o mundo que é seu!

Lamento a sofreguidão com que deseja!
Dá-me pena o seu traje bafiento.
Lamento de todo que assim seja,
Este personagem: O Avarento!

Mais nada que não fosse amar

Mais nada que não fosse amar


Solidifica a angústia como a rocha que esfria.
Sou um palhaço e não há publico que ria.
Sinto-me pesar nos braços um cansaço...
Não é nada físico mas é de doer.
É como um esboço, um simples traço,
Uma espécie de nota surda, um gemer...

Tudo dentro de mim é uma agonia,
Que não quer ir embora, sumir!
É algo pesado que me rouba alegria,
Um desejo imenso, infinito de partir!

Porque tenho de ouvir a tua dor?
Ou tu de na minha mão,
Deixares entregue o teu coração?
Eu que apenas sinto sufoco, calor!

Eu que gostava de me abandonar,
Eu que por ser louco e sorrir,
Apenas busco o teu jardim, nele florir,
E queria mais nada que não fosse amar!

2003-12-16

Não faz mal...

Não faz mal...


Porquê tem a Lua de ser redonda
Ou a gente de fazer de conta
Que está tudo bem?
Já não importa ser
Mas o que se tem
E chama-se-lhe viver?!
Talvez já não seja
Se calhar é virtual,
E por isso não faz mal...

Sózinho

Sózinho


Esperei sentado naquele degrau
E nada se acercou a não ser o cão
Sim, eu sei, o mundo é mesmo mau
E faz doer demais o coração.
Não sei se tem algum sentido
(Penso que não)
Está mesmo tudo perdido
E o que não está vai a caminho!
Sim, amigo, sinto-me sózinho...

A minha cura!

A minha cura!


Sou como a flor no meio do deserto
Anseio ficar firme e sedento
Como se contigo ficasse desperto
Nuvem que me cobre deste calor
Terna a mão aconchegante
Neste intenso desejo de amor
Que arde em fogo chamejante

Sou tudo e sou nada
Tudo depende de ti
És a minha amada
E eu o que sou esqueci

Quem pode trazer a frescura
Nas tuas asas ó doçura
A minha cura!