2006-07-27

Adormecer

Pressinto esta dor
Que me invade
Me toma todo
Ausência desse amor
Oh Saudade!

É insensato, eu sei
Persistir nisso é loucura
Tudo te dei
Não tenho cura
Nem juízo

Há loucos mais felizes
Parvos que são melhores
Tristezas e dores
Tenho em todos os matizes
Tantas quantas esquecidas belezas!

Arrancar o coração
Sim atirá-lo para longe
Sou sem salvação
Um monge devasso
Desgraçado sou em tudo que faço!

Perdoem ter acreditado
Que do amor estava perto
Foi escusado
Fiz tudo errado
Nada deu certo!

Vou arrancar os olhos
Não quero mais ver
Há frustração aos molhos
Em cada amanhecer
E só quero adormecer, adormecer...

2006-07-23

Ser doido

Ai quem me dera ser doido!
E não apenas lunático,
Neste olhar apático,
Que surpreendo num reflexo!

Entender coisas sem nexo,
Deve ser mais fácil com outro olhar.
Talvez enlouquecer, seja afinal,
A solução pra entender, o que está mal!

2006-07-22

Não há nada que nos valha!

A mulher que amava,
Foi-me roubada,
Dos meus sonhos!
Enquanto neles voava,
Tudo era belo, perfeito,
Na sua doçura, eu repousava,
(Eram apenas sonhos!)
Mas quando a encontrei
Um dia na estação,
Nunca mais sosseguei,
Incendiado, na mais intensa paixão!
Deixei de sonhar, não era preciso!
A partir daí, perdi o juízo!
Foi a loucura e a dor de achar
E perder, e voltar a perder.
Descobri que o amor é dor,
E que amar
Pode querer dizer morrer!

Ó insensatos que na vida,
Perseguis a felicidade no amor:
É mentira!
Tal jornada está perdida,
Condenada a acabar em dor!
Resseca a erva, fenece a flor,
E é natural.
Mas padecer de amor,
É fatal!

Maldita droga essa,
Em que a gente tropeça,
Nos caminhos do coração!
É cruel, é tirana,
Essa ditadura insana,
Que nos prende,
A quem não quer prisão,
Nem nunca se rende!

Permiti que vos avise, como amigo,
Que do alto deste farol vos grite,
Que tal coisa é um perigo, é um perigo!

Fugi do amor que turva a visão,
Altera a respiração,
Desse sabor tão doce,
Que embriaga!
Ó dura fraga,
Onde como frágil casco
(E isto até dá asco!)
Embatemos,
Debatemos,
E afundamos,
Com todos os danos...

E somos pó e poalha,
E não há nada que nos valha!

2006-07-21

Gaivota solitária


Sou gaivota só de solitária ser
Quando te quero, não estás mais,
E quando não estás, aumenta o querer!
Porque me deixas só no meu voar?
Não te importam os meus dias?
Se há em mim coisas tristes,
Que fazem as tuas alegrias?
Queria deixar de ser gaivota só.
Ser apenas apenas areia, talvez pó!
E nem é mais por ti, mas por mim,
Que me dói tanto ser assim,
Ser como sou!

Levanto de novo vôo e vou.
Para planar sobre o mar,
Que é salgado e não mata a sede,
E aonde tenho de beber!
Deve ser por isso,
Que as lágrimas sabem a sal.
É o teu interesse por mim, mortiço,
Que me pesa e faz tão mal!

2006-07-20

Encher o gamelo!

Éis que vem falar,
Sua Excelência o presidente,
Do venerável Banco de Portugal,
Todo contente:
Está a crescer e não vai mal,
A economia em Portugal!
Mas é preciso contenção,
Em especial, a salarial!
Fala assim o animal,
Porque tem um ordenadão,
Carro, cartão de crédito, regalias
E outras mordomias tais!
E anda pr'aqui o Zè feito camelo,
A trabalhar todos os dias,
E a cada dia a pagar mais,
Pra lhes encher o gamelo!

2006-07-19

Efeito secundário

Hoje em dia toda a gente escreve
Seja literatura pesada, seja leve
Encontro muito material
Que gosto e outro menos mal!
Há muito sobre sexo e erotismo
Deve ser doença, talvez priapismo!
Ou muita espreitadela no decote,
Ou saudades de apanhar no pacote!
Que raio é que se passa?
Será efeito secundário da falta de ‘massa’?

2006-07-18

Poeta de m...

Poeta grande sei que não sou!
Sou repentista e se rimar, rimou,
Se não, na próxima sairá melhor!
É a minha inspiração que é fugaz,
O que escrevo, alguns largam por trás!

2006-07-14

A porta que dá!

Há um perfume agarrado a mim,
Um cheiro que não há maneira de sair,
Uma coisa forte e intensa assim,
Que me entontece e faz cair!

E sei agora o que se trata
Uma reles imitação barata
De um perfume chique de Paris!

Só podia ser!
É como esta imitação
Que simulas da paixão!
Uma coisa a querer parecer,
Desenbocando no tédio,
Há saída do teu prédio!

Gostava imenso de te amar
Mas não consigo já
Estás sempre a fechar
A porta que dá!