2014-02-15

Tristeza



Preciso desta dor na alma para saber que existo
Pó que sopra no vento do tempo, bruma de existir
Ser apenas só e todo teu, não poder fugir
Palavras de amor eterno riscadas num pedaço de xisto
Sinto que tudo passa, tudo acaba por passar
Menos este intenso desejo de te ter, a ti amar!
Mas que importa ao universo quem somos, o que queremos?
A vida é agora, presentea-nos com o que temos!
Nunca nada de mais, nem nada de menos.
E o desejo esse é infinito, neste grito aflito
Que me rasga o peito na ausência de ti
Pedaço de mim, pertença minha, que não está aqui.
Não importa nada ao tempo que passa, esta agonia
Nem se este meu inflamado amor cresce em cada dia
As minhas mãos vazias do teu corpo apetecido
Este peso em mim de não ser tudo, apenas vencido
Derrotado, atirado ao tapete, cansado coração
Batendo à toa, nesta arrebatadora paixão
E demoras, não vens que não sinto o teu perfume
Arrasto-me, louco por ti, aqui escrevo o meu queixume
Este constante a ti lembrar somente,
O apenas sonhar-te me faz contente
Sermos nós dois, o desejar-te a comer à minha mesa
Sou e sinto, sou vulcão extinto, a chorar de tristeza

2014-02-07

Lugar de Bicho


Cheguei-me à luz, mostraram-me o céu!
Fora de mim, fiquei deslumbrado;
Pensei que era meu.
Escarvei o chão, qual touro libertado!
Mas lá, não anda solta nenhuma besta.
Foi curta a minha festa!
Rostos angelicais,
Explicaram-me que estava a mais.
Aquele não era o meu lugar,
Não me sabia comportar,
Portara-me mal!
Procurei explicar que estava feliz,
Cheio de força e de vigor!
Meteram-me o dedo no nariz,
Que não compreendia o amor,
E que no final,
Onde deveria estar,
Ao invés de os importunar,
Era no lugar infernal,
Onde acabam a arder,
Os que não sabem viver!
Isso diziam, era um facto:
Eu era um bicho do mato!
Pedra tosca por polir.
E assim sendo, podia partir!
Aceitando seu aviso terno,
Éis-me a caminho do inferno.
Igual ao touro que se abate,
Espero por quem me mate;
Que lugar de bicho,
Depois de morto, é no lixo.

2014-02-06

Ver o mundo a mudar sentado no sofá


Não sei se antes de nascermos estamos a dormir
E depois ao nascer nos acordam para este devir
Contudo andamos por cá, a tentar despertar
Sentados no sofá, a ver na TV o mundo a mudar
Talvez devesse vencer a inércia e lutar
Tornar o mundo um lugar melhor de se viver
E não apenas passar por aqui, até morrer
Dizem que a apatia nos apanha e congela
E não lutamos, ficamos presos à vida bela
Os comodismos e confortos a ganhar espaço
O mundo perde o brilho fica baço
Mergulhado em diversas crises e pecados
E tudo que fazemos é ficar especados
Vendo acontecer, espectadores passivos
Afinal, mais mortos que vivos!

2014-02-03

Triste agora


Por entre a cinza e o cinzento
O cheiro pardo de jornal molhado
O ontem foi só um momento
Para aqui termos chegado

Não sei nada, do que pergunto
Ninguém quer saber
Esgota-se o assunto
É para morrer

Creso queria engolir o mundo
Como os imperadores de agora
Caiu, mergulhou fundo
Sonho desfeito, foi embora

Espreguiça as asas largas
Olha na distância o horizonte
Já não tardas
Voas em direcção da fonte

E o que esperas, já não espera
Se foi, então já era...
Um passo em falso, uma demora,
Já foi tudo, só resta o agora...


(confesso que foi a música que inspirou o poema. Talvez queiram lê-lo enquanto escutam)

2014-02-01

Amarra-te a mim!



Quando tudo o que te enche for a solidão
E pensares que não vives em nenhum coração
Quando olhares e o teu olhar for vazio
E sentires que se escoa  a tua vida feito  um rio
Chama por mim! Chama por mim!

Quando andares aos tropeções
Na ressaca das passadas paixões
Pensando que não há lugar para ir
E que é agora que te vais deixar cair
Encosta-te a mim, encosta-te a mim!

Quando a vida te parecer dura
Sem afecto nem ternura
Todos os lugares feitos de nada
Companhia que te enfada
Abraça-te a mim! Abraça-te a mim!

E quando o horizonte ficar escuro
E já não te sentires seguro
Para que os vendavais da vida
Não te levem de vencida
Amarra-te a mim! Amarra-te a mim!