2010-11-11

Empertigadorismo



Em pequenitos fazíamos de conta,
— Na nossa infância dura, —
Fazendo bolos na mesma lama.
Agora cresceste, (mas só em impostura),
Chegou-te uma doentia e obesa fama.
E finges do alto da tua vã importância,
Que não me conheces, queres distância!

Agora o teu meio social,
São as tias conectadas,
Os Professores Doutores!
De bafiento, cheiras mal!
As pessoas afamadas,
São a canalha dos Senhores!
E os que de facto têm valor,
Devem sofrer com teu bolor!

Dás-te com canalha, de marca,
Que já não brinca ao faz de conta,
Mas que faz de conta que é superior!
Sensatez de nada, tão pobre e parca,
Sapiência inflacionada de tão tonta,
Fingindo por sua vez, ter imenso valor!


No contacto, são vaga-lumes,
Bando de snobes empertigados,
Sempre em lucro, nunca em perda!
Cagalhões vaidosos e perfumados,
Que apesar de todos os perfumes,
Permanecem uma grande merda!

2010-11-07

Os Abutres


Perversas lucubrações,
Que levam a desgraça,
A centenas de milhões!
Aguardais a carcaça,
Limpais tudo até ao osso,
Considerais que é tudo vosso!

Demiurgos negros e rapaces,
Sádicos tecendo sofrimento!
Criaturas de duas faces,
Criadores de tormento!
Na aparência caridosos,
Por dentro plenamente maldosos!

O abutre banqueiro,
Apenas pensa em dinheiro!
Perdeu a humanidade.
Qual abutre adora a carcaça,
O abutre não tem escolha,
Ele, com gosto a abraça!
Pegar a um, emprestar a seis
Fazer-te a folha.
Fazer penar os outros, por usura,
Dar-lhes vida mais que dura!
Vós os fazedores de leis,
Deixais o crime impune!
O abutre julga-se… imune!

Abutres horrendos pacientes…
Sabem esperar lentamente,
Que morram os doentes,
Que todos acabem finalmente!
As vossas patas têm poder maléfico,
Onde tocam queimam o chão!
Vossas palavras têm tom profético,
Quem não vos serve, vai prá destruição!

Há uma pantomina de servir!
Na hábil arte de mentir,
Seguis de perto os leões,
Palhaços, políticos foliões,
Para realizarem a matança,
E a vós vos fartarem a pança!
Estais tão empanturradamente anafados,
Que as asas são braços pendurados!
E arrastais o nadagueiro pelo chão,
E ainda bicais sem compaixão,
Como pudésseis engolir outro pedaço!
Quem dera que uma lâmina de aço
Vos cortasse o pescoço monstruoso,
E acabasse com vosso caminho odioso!

Oh ardor profundo nas entranhas,
Ao escutar vossas urdidas patranhas!
Criais mil tropelias,
Inventando pandemias,
Para vacinações letais,
Com efeitos fatais!
Inventais factos,
Acumulais arsenais,
Criais medos e iras,
Alimentais mentiras,
Rapinadores de mundos,
Geradores de moribundos!

Tende misericórdia, tende dó,
Destes espoliados que se arrastam no pó!
Mas como podeis mostrar compaixão?
No peito, ao invés de coração,
Há uma pedra negra e dura, pra durar
Que não pode, nem quer mudar!

Ah! Não haver um Deus decidido,
Cheio de vontade e de poder,
A quem suplicante se peça,
Para vos esmagar a cabeça!

Oh! Abutres saltarilhos da treta,
Anuncio a vossa queda,
Ides tombar a golpes de marreta!
Ouvi aproximar-se a funéria carreta...
Com gosto sereis despedaçados,
Vossos membros esquartejados,
Os restos mortais espalhados!
Oh abutres malditos,
Chegou o dia dos aflitos
De vos retribuir a paga, seu danados
É o tempo de vos vermos depenados!

Ó povos regozijai-vos com intensidade!
Lançai na rua o ouro e o dinheiro,
Não mais valoreis essa falsidade!
Ao abutres, tal apóstata visão,
Cairá em suas asas, como ardente maldição!
É uma profecia, sim!
Uma a anunciar o vosso fim!

Vossa sorte (por enquanto)
É poderdes voar!
Senão as montanhas com encanto
Fariam tudo para vos soterrar!
Quem vos há-de matar?
Quem será capaz de tais façanhas?
Oh multidão! Erguei as tochas!
Iluminai na noite o caminho.
Haja luz, um berro, um fulgor!
Que ninguém sinta estar sozinho,
Nesta imensa dor.
É preciso uma revolução,
Escutar os caminhos do coração,
Permitir-se a realidade do amor!

2010-10-07

Agora



Já fui feliz nos caminhos da ilusão,
Coisas de juventude e do coração...
Mas ao crescer comecei a perguntar,
Talvez com demasiada pretensão de saber.
E como o dia que nasce começou a clarear,
Não foi apenas perguntar, mas querer responder!
Foi mais do que apenas curiosidade,
Tornou-se um impelente desejo da Verdade!

Agora foi-se a felicidade,
Contida nessa vazia esperança.
Já não aguardo nenhuma cidade,
Nem me anima, nenhuma dança.
Compreendo que esta vida sensiente,
Apenas nos dá o tempo presente!
Que tudo o que usufruo e sou,
Se concentra em menos de uma hora,
Tudo é sempre e apenas Agora!

2010-09-04

Nevoeiro antigo...


Há nevoeiros antigos,
Encerrados em nós.
Acordam ao ser mexidos,
Ecos de uma antiga voz!

Nevoeiros cerrados,
Que não deixam ver.
Medos parados,
Que não queremos crer.

Nevoeiros finos como gaze,
Que me impedem de chegar,
E nesta vontade de te amar,
Me sufocam na angústia do 'quase'...

2010-06-20

Homenagem...


Da palavra dura

Carregada de angústia

Foste o supremo mago

Como o pai de Cristo: José,

De resto, apenas Saramago.

Mas quem te mandou escrever?

Quem sussurrou no teu ouvido?

O que te fez mover.

Para além do ruído?

Sim, para cada história,

Tem de haver uma musa,

Antes de toda a memória.

É de vida a alma lusa.

Traduz-se em vida generosa,

Mesmo quando parece rude,

Numa face rugosa!

Mas havia essa outra, doce,

Pra te adoçar os dias;

Mais que não fosse,

Ao que era bom, somar melhorias!

Temos de agradecer,

Ela ter dado à tua mão o vigor!

Ter aquecido o teu frio!

Inspirar-te a escrever:

Abençoada por seu amor,

Seja Pilar del Rio!

2010-05-07

Os Tambores de Genzo


Um tambor de Genzo soa como o bater do coração,

Para alguns soa alto e forte, mas para ele não!

Há uma batida sofrida, toda feita de dor,

Sempre que não soa, o seu tambor!

Há uma sombra inimiga, persegue-o por onde for,

Chamam-lhe muitos nomes, mas é só um; — tumor!

Genzo tem outro tambor que soa a passos que vão,

E às vezes, algumas vezes, a passos que vêem.

Um tambor de Genzo tem o rufar da batalha,

Às vezes contudo, soa seco, mais que a palha!

As pancadas de tambor, são o que Genzo tem,

Uma marcação no tempo presente, um sinal.

Bate Genzo num tambor, para afugentar o mal!

Um tambor de Genzo, fá-lo caminhar mil passos!

E olha Genzo, quando te faltar a força nos braços,

Lembra-te de mim e de passar por aqui...

Deixa que então, bata forte no tambor por ti!

2010-04-07

Alquimia


Há substâncias que nenhuma química consegue ligar;

Incompatibilidades, que ninguém consegue vencer!

São como ventos contrários, numa vela esburacada.

Quando querias que importasse, não importa nada!


Há efeitos enganosos, miragens feitas pelo calor.

Pensas que o que vês, é o que parece, e não é.

Há caminhos, que nunca se deviam trilhar a pé,

Ausências, que já não conseguem causar dor!


Porque me perguntas se está tudo bem?

Se de facto me conhecesses, saberias,

Que desapareço no contar dos dias,

Que afinal, são os teus também...


Nesta química insuportável que nos separa,

Há este desejo intenso de me aproximar!

Contudo, há uma força que me pára,

Uma alquimia retorcida de afastar!


2010-02-08

Tempo Lento

imagem surripiada aqui

Há um tempo,
Que é lento,
Um tempo triste,
Como nunca viste!

Tem nuvens negras, pesadas,
Feitas de águas passadas,
De desejos que tiveram de passar,
De sonhos inteiros por realizar.

É o tempo preso das memórias,
Velhas derrotas e passadas glórias!
Baú tão cheio e tão pesado,
Aqui me faz jazer, ficar parado...

2010-02-06

Sarah


(a imagem veio algures da net...)

O vento que sopra quente,
Modelando o teu corpo de areia,
Desenha a curva atraente,
Até ao horizonte onde se enleia!

Conta-me os segredos desse deserto,
Dos jardins secretos, perfumados,
Esse corpo tão longe e tão perto,
Que aos sentidos os faz embriagados!

Quando a noite cai, serena e fria,
Vêm as estrelas pra te enfeitar.
O teu sorriso, faz com que sorria,
E teus olhos brilhantes, vontade de amar!