2016-03-03

Pousar cansado


Sair por aí sem destino,
Em completo desatino,
Soltar a alma, deixá-la ir!
Achá-la depois, se conseguir.
Mas hoje não!
Não, por favor,
Que estou doente de amor.
No peito a doer o coração.
Não sou perfeito,
E soltou-se-me da mão.
Meu sonho eleito,
Ganhou asas e voou;
E ninguém o agarrou!

Canta a água no ribeiro,
Em cantante sobressalto,
O perfume dela sinto o cheiro,
Mas ao lado dela, eu falto!
Deixa-me ser vento, furacão!
Pôr asas neste doido coração!
Deixem-me solto, asa caída,
Todo eu, imensa ferida,
Por onde me esvaio!
Oh campos de Maio,
Cheio de papoilas vermelhas!
As minhas esperanças,
Deixaram-se de danças,
Trôpegas velhas;
Que arrastam passos,
De olhos baços,
Onde já não há vigor!

Sou eu perdido!
Deixai-me ir, andar,
Que o tempo é bandido;
E me anda a roubar!
Não, ainda não!
Um dia, hei-de parar...
Deixarei de voar,
E em ofegante respiração,
Pousarei cansado em tua mão!

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