Vinte e cinco de abril cinzento,
Um dia com vento,
Para perdermos alento.
Um dia em que chove,
O povo não se move,
E tudo fica mais triste.
Não se levanta o punho em riste!
Curvam-se os cravos para o chão,
Incumprida no fim, a revolução.
Tomada de assalto por
oportunistas,
Que na altura do voto enchem as
listas,
Sátrapas, clientes vários,
Rios de supranumerários!
Todos fazendo do Estado,
Maná pelos deuses providenciado.
Perde o povo, nas vis mãos do
mercado;
Trabalha empobrecendo,
Na miséria vai envelhecendo.
Vendido pelos traidores,
Dos trabalhadores!
Alguma esperança ainda que
moribunda,
Ou a derrota chega lenta, mas
profunda?
Tem o poeta de calar a sua voz,
emudecer?
Os cravos substituídos por
crisântemos,
Que a revolução acaba de morrer?
Um fel na boca amargo é merecido,
A este povo que sempre andou
perdido;
Que chore e que lamente,
Que o bem, não é para esta gente!
São apenas bandos de tolos!
Votam como ricos e são apenas
parolos!
Nação sem povo nobre,
Apenas pobre,
Que se deixa iludir.
Vê as conquistas a fugir,
E inclina a cabeça.
Estende a mão, como quem peça!
Já não sabe, nem como se luta,
Nação que só sabe parir,
Bufos e filhos da puta,
Não merece existir!
Haverá amanhã, um dia feliz?
Se houver, não é porque o povo
quis!
Foi circunstancial,
No meio do mal,
Da apatia nacional,
Da secular ignorância,
Da corporativa arrogância,
Das diversas castas sociais,
Que temos demais!
No fundo sempre esta chuva;
Afogada nos bagos de uva,
Que esmagados,
(Como nós),
Nos fazem ficar sossegados.
O amanhã não será feliz, estará a
chover.
Através da janela vejo o futuro a
acontecer,
As hienas em volta do tigre rindo,
Que o mundo é campo de batalha!
E há carniça para abater,
Tudo é findo,
Tudo é pó e poalha,
Tudo destinado a morrer.
Salvar-se a esperança!
O depois da tempestade,
Chegar a bonança?
Sim, se aceita as coisas pela
metade,
Se vos bastam os restos,
Que caem da mesa dos donos.
E porque não merecestes a
revolução,
E vos contentais com uma vida de
cão.
Vá, ide enroscar-vos no canto,
Dessa vida vil!
Hoje são vinte e cinco e tanto,
De Águas mil...
1 comentário:
Excelente, poeta! A esperança é finda...nos quatro cantos do mundo!
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