2021-04-25

25 de Abril de águas mil



Photo by Pedro Santos on Unsplash

Vinte e cinco de abril cinzento,

Um dia com vento,

Para perdermos alento.

Um dia em que chove,

O povo não se move,

E tudo fica mais triste.

Não se levanta o punho em riste!

Curvam-se os cravos para o chão,

Incumprida no fim, a revolução.

Tomada de assalto por oportunistas,

Que na altura do voto enchem as listas,

Sátrapas, clientes vários,

Rios de supranumerários!

Todos fazendo do Estado,

Maná pelos deuses providenciado.

Perde o povo, nas vis mãos do mercado;

Trabalha empobrecendo,

Na miséria vai envelhecendo.

Vendido pelos traidores,

Dos trabalhadores!

Alguma esperança ainda que moribunda,

Ou a derrota chega lenta, mas profunda?

Tem o poeta de calar a sua voz, emudecer?

Os cravos substituídos por crisântemos,

Que a revolução acaba de morrer?

Um fel na boca amargo é merecido,

A este povo que sempre andou perdido;

Que chore e que lamente,

Que o bem, não é para esta gente!

São apenas bandos de tolos!

Votam como ricos e são apenas parolos!

Nação sem povo nobre,

Apenas pobre,

Que se deixa iludir.

Vê as conquistas a fugir,

E inclina a cabeça.

Estende a mão, como quem peça!

Já não sabe, nem como se luta,

Nação que só sabe parir,

Bufos e filhos da puta,

Não merece existir!

 

Haverá amanhã, um dia feliz?

Se houver, não é porque o povo quis!

Foi circunstancial,

No meio do mal,

Da apatia nacional,

Da secular ignorância,

Da corporativa arrogância,

Das diversas castas sociais,

Que temos demais!

No fundo sempre esta chuva;

Afogada nos bagos de uva,

Que esmagados,

(Como nós),

Nos fazem ficar sossegados.

 

O amanhã não será feliz, estará a chover.

Através da janela vejo o futuro a acontecer,

As hienas em volta do tigre rindo,

Que o mundo é campo de batalha!

E há carniça para abater,

Tudo é findo,

Tudo é pó e poalha,

Tudo destinado a morrer.

 

Salvar-se a esperança!

O depois da tempestade,

Chegar a bonança?

Sim, se aceita as coisas pela metade,

Se vos bastam os restos,

Que caem da mesa dos donos.

E porque não merecestes a revolução,

E vos contentais com uma vida de cão.

Vá, ide enroscar-vos no canto,

Dessa vida vil!

Hoje são vinte e cinco e tanto,

De Águas mil...


1 comentário:

Sonia Barbosa disse...

Excelente, poeta! A esperança é finda...nos quatro cantos do mundo!